Exposição
Mãe Preta de Isabel Löfgren & Patricia Gouvêa
MÃE PRETA é um projeto de exposição de arte e pesquisa da dupla Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa que aborda a memória da escravidão no Brasil através do questionamento do olhar habitual sobre imagens da maternidade negra em arquivos históricos, suas reverberações no Brasil contemporâneo e as lutas das mulheres negras contra o racismo e a violência operadas pelo Estado branco patriarcal.
O ponto de partida são representações de relações maternas no vasto acervo de imagens da escravidão feitas por artistas viajantes e fotógrafos, além de jornais de época. Por meio de intervenções nessas imagens com objetos óticos, como lupas e vidros são destacadas a duplicidade e complexidade das relações das amas-de-leite com as crianças brancas aos seus cuidados e com seus próprios filhos. Dois trabalhos em vídeo completam o trabalho, realizados em parceria com mães negras do Rio de Janeiro e com lideranças femininas do Quilombo Santa Rosa dos Pretos, no Maranhão.
A cegueira da sociedade branca brasileira em relação à questão racial é por definição criminosa pois advém de um legado escravagista que ela custa em admitir e reparar. Acreditamos que a arte tem uma importante contribuição na luta antifascista, pois tem o poder de criar novas imagens e novos vocabulários que operam no insconsciente dos espectadores.
Mãe Preta teve sua primeira montagem em 2016 no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos no Rio de Janeiro, por meio do Edital Fomenta Cidade Olímpica; pelo Palácio das Artes em Belo Horizonte em 2017 como uma das selecionadas no edital da Fundação Clóvis Salgado e, com o Prêmio Circulação Conexão Artes Visuais da Funarte, foi apresentada no Complexo Funarte em São Paulo em 2018 e no Chão SLZ em São Luís do Maranhão entre 2018/2019.
ABERTURA | 19 de fevereiro às 17h
VISITAÇÃO | 19/02 a 08/05/2021
De quarta à sábado das 14h às 20h
Domingo 18/04/2021 especificamente para o evento CLAI aberto do Circuito Livre de Arte Independente de Campinas, horário a definir.
LOCAL | Instituto Pavão Cultural
Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708
Cidade Universitária, Campinas, SP
CEP 13083-820
PROTOCOLOS SANITÁRIOS PRÉVIOS
• uso de máscaras obrigatório
• agendamento para dia e horário com nome e contato para rastreamento caso necessário
• máximo 15 pessoas por horário
• whatsapp 19 996334104
ORIENTAÇÕES DO LOCAL
• manter máscaras enquanto estiver no local
• manter distanciamento social
• higienização dos calçados na entrada
• medição de temperatura
• higienização de mãos com álcool em gel 70% disponível no local
Série Modos de Navegar
Intervenção em um mapa-múndi escolar que pontua a relação oceânica entre a América do Sul e a África unindo os rios São Francisco e Níger por meio de uma fita de Moebius com um verso do poema “Vozes-Mulheres” (1990) de Conceição Evaristo.
Intervention on a world map used in school assignments that traces the relationship of Brazil and Africa by way of the ocean, and uniting the flows of the São Franciso and Niger Rivers by way of a fragment of poem “Voices-Women” (1990) by Conceição Evaristo written on a möbius strip.
Modos de Navegar – A Grande Água, 2016
Colagem sobre papel e grafite
Fragmento do poema “Vozes-Mulheres” de Conceição Evaristo, 1990
75 x 50 cm
Com moldura em imbuia, sem vidro
Ways of Navigating, 2016
Collage on paper and charcoal
Fragment of poem “Voices-Women” by Conceição Evaristo, 1990
75 x 50 cm
Framed with imbuia, no glass
Modos de Navegar - A Grande Água, 2016 (detalhe)
Série Modos de Revelar
Modos de Revelar é uma montagem fotográfica que expõe uma reprodução do negativo de uma das imagens mais icônicas de Marc Ferrez (1843-1923), raramente visto em público. A imagem, que revela as tessituras e impurezas do processo fotográfico analógico no século 19, serve como metáfora para todas as imagens e vidas negras que, ao longo dos anos, ficaram confinadas às memórias individuais ou á história oral. Ao torná-lo público, o negativo expõe a materialidade da fotografia e o que ela é capaz de revelar ou de esconder – proporcionando uma reflexão sobre o papel da fotografia na interpretação da história.
Ways of Revealing shows a rarely seen scan of the negative plate of one of the most iconic images by photographer Marc Ferrez (1843-1923). The image reveals the edges and impurities of the analogical photographic process and is a metaphor for all the images, which, through the years have been confined to individual memory. In making the photograph public in this state, we understand what photography is capable of revealing or concealing, which invites a discussion about the role of photography in writing and interpreting history.
Modos de Revelar, 2016
Fotografia (Díptico)
Montagem fotográfica com scan de placa de negativo deteriorada de Marc Ferrez
62 x 90 cm
Moldura em imbuia com vidro
Negras, c. 1884, Salvador – BA
Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
Ways of Revealing, 2016
Photography (Diptych)
Intervention on deteriorated negative plate by Marc Ferrez
62 x 90 cm each image
Framed with imbuia and glass
Negresses, c. 1884, Salvador – BA
Marc Ferrez/Gilberto Ferrez Collection/Moreira Salles Institute Collection
Série Modos de Olhar
Na série Modos de Olhar, a complexidade das relações das amas de leite na luta pela sobrevivência de seus filhos e a obrigação de aleitar os filhos de seus “senhores” são destacadas por meio de objetos óticos, guias e joias simbólicas sobre gravuras e fotografias bastante conhecidas de importantes artistas e fotógrafos viajantes do século XIX. O protagonismo materno é enfatizado, enquanto diamantes e vidros são usados para ocultar o rosto dos colonizadores.
In the Ways of Seeing series, the duplicity and complexity of the different relationships entertained by the wet-nurses with both the white children they took care of and their own children, are highlighted in archival images from the 19th century with optical objects, ritual beads, and symbolic jewellery, causing a shift of perception that makes the Black mother the protagonist of each scene, whereas diamonds and glass beads obscure the gaze of the colonizers.
Modos de Olhar, 2016
Fotografia
Interferência sobre fotografia de Georges Leuzinger
30 x 20 cm
Moldura em imbuia com vidro
Fazenda de Quititi, c. 1865, Jacarepaguá, Rio de Janeiro
Georges Leuzinger/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles
Ways of Seeing, 2016
Photography
Interference on photograph by Georges Leuzinger, Quititi plantation, c. 1865,
Marc Ferrez/Gilberto Ferrez Collection/Moreira Salles Institute C Jacarepaguá, Rio de Janeiro
Modos de Olhar, 2016
Fotografia
Interferência sobre fotografia de Marc Ferrez
60 x 40 cm
Moldura em imbuia com vidro
Escravos em terreiro de uma fazenda de café na região do Vale do Paraíba, c. 1882 Vale do Paraíba
Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
Ways of Seeing, 2016
Interference on photograph by Marc Ferrez
Slaves on coffee yard of a coffee plantation in the region of the Paraíba River valley, c. 1882, Paraíba Valley Marc Ferrez/Gilberto Ferrez Collection/Moreira Salles Institute Collection
Modos de Olhar, 2016
Fotografia
Interferência sobre fotografia de Marc Ferrez
60 x 40cm
Moldura em imbuia com vidro
Partida para a colheita do café com carro de boi, c. 1885, Vale do Paraíba
Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
Ways of Seeing, 2016
Photography
Interference on photograph by Marc Ferrez Leaving to the coffee harvest with ox cart, c. 1865, Paraíba Valley
Série Modos de Apagar
Na série Modos de Apagar, é revelada, por meio de artigos da imprensa negra, o debate público e a mobilização da comunidade negra em torno da memorialização da escravidão que antecedeu a construção do atual Monumento Mãe Preta. O jornal O Clarim d’Alvorada teve a ideia de homenagear o papel fundamental da raça negra na formação do país através de um monumento e do estabelecimento do Dia da Mãe Preta todo 28 de setembro no calendário oficial da cidade, em memória à Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871. O primeiro monumento proposto na década de 1920 nunca vingou, mas a ideia ressurgiu no final dos anos 40, e o monumento foi finalmente erguido em 1953, obra do escultor Júlio Guerra, no largo do Paissandú na região central da cidade. A obra fotográfica busca evidenciar a deterioração e/ou apagamento da memória da escravidão na malha urbana paulistana. Desde maio de 2018, o Monumento Mãe Preta e a praça ao redor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Largo do Paissandú tornou-se um refúgio para dezenas de pessoas desalojadas pelo desmoronamento do edifício Wilton Paes, tornando ainda mais aparente a crise habitacional na cidade mais rica do continente, criando um ambiente distópico e desolador.
The series Ways of Erasing presents one of the histories connected to the erasure of the memory of slavery in the city of São Paulo. By way of newspaper clippings from the Black press in the 1920s and 30s, we are able to witness the campaign towards creating the Black Mother Monument as a means of recognizing the Black population as a fundamental cornerstone in the formation of Brazilian society. The press also called for a Black Mother Day to be celebrated on September 28th, to be included in the city’s official calendar. The monument, which can be seen in the photographic works, would not be built until 1953. Today the Black Mother Monument stands before the ruins of a skyscraper that crumbled to the ground in May 2018, and has become a refuge for homeless people in the area, creating a dystopic scenario.
Modos de Apagar, 2018
Fotografia | Díptico
50 x 70 cm
Moldura em imbuia com vidro
Imagen do primeiro plano: Monumento Mãe Preta / imagem das artistas
Imagen de fundo: Mike Peel
www.mikepeel.com / Wikimedia Commons
Ways of Erasing, 2018
Photography | Diptych
Foreground image: Monumento Mãe Preta / image by the artists
Background images: Mike Peel
www.mikepeel.com / Wikimedia Commons
Modos de Fala e Escuta
A obra central da exposição é um video com relatos contemporâneos de sete mulheres e mães negras, cujas vozes ecoam por todo o espaço da montagem. Nos depoimentos ficam evidentes questões ainda não superadas da herança do passado escravocrata da sociedade brasileira, como o racismo, a violência, o extermínio de crianças e de jovens negros, a maternidade precoce, o abandono dos companheiros e a luta pela conquista de respeito numa sociedade desigual e o respeito às suas práticas ancestrais. Em igual medida, os depoimentos relembram cantigas de ninar, memórias das próprias mães, e conselhos a geracões futuras.
The exhibition’s central piece is a video with seven contemporary Black women’s and Black mother’s voices, which echo in the exhibition room. In their testimonials, issues of racism, violence, the genocide of young Black lives, early motherhood, ancestrality, the abandonment by partners and the struggle for respect in an unequal society where the consequences of the country’s slave past can still be felt. The testimonies also shed light on matrilineage, memories of lullabies and advice for future generations.
Modos de Fala e Escuta, 2016
Video 27’
Com: Carla Gomes, Cristiana Rosendo da Silva, Gabriela Azevedo, Glauce Pimenta Rosa, Jessica Castro, Michelly Ferreira Alves, Nidia Mara Santos
Em colaboração com: Mats Hjelm
Ways of Speaking and Listening, 2016
Video 27’
With: Carla Gomes, Cristiana Rosendo da Silva, Gabriela Azevedo, Glauce Pimenta Rosa, Jessica Castro, Michelly Ferreira Alves, Nidia Mara Santos
In collaboration with: Mats Hjelm.
Modos de Recordar – Mural das Heroínas Negras
Com um recorte de 22 mulheres dentre centenas de heroínas negras, o mural conta com imagens e biografias, de Anastácia a Marielle Franco – muitas delas ainda pouco reconhecidas pela história “oficial” brasileira, apesar de terem exercido papel fundamental nas lutas e nas conquistas de direitos não só para as mulheres negras, mas para todas as mulheres brasileiras, e para a população negra em geral.
The mural shows twenty-two of hundreds of Black heroines from Brazil, with their images and biographies, from Anastácia to Marielle Franco. Many of them are still not fully recognized by mainstream history for their achievements in the struggle.
Modos de Recordar – Mural das Heroínas Negras, 2016-2018
Serigrafia sobre madeira, papel
22 painéis, cada painel 50 x 75 cm
Foto de Marielle Franco de autoria de Mídia Ninja, outras imagens de autoria não-localizada.
Esta obra é inspirada na série de cordéis ”Heroínas negras” de Jarid Arraes.
Modos de Reportar
A série Modos de Reportar apresenta uma pesquisa em jornais do século XIX sobre artigos de venda e aluguel de amas-de-leite em algumas das principais cidades e vilas brasileiras, assinaladas por guias e objetos óticos. Ao mesmo tempo, são mostradas matérias e artigos publicados em jornais abolicionistas da década de 1880 em diante, que denunciavam crimes praticados contra as amas-de-leite e artigos em que os direitos das amas-de-leite e das mulheres negras por uma maternidade plena e justa são defendidos.
In Ways of Reporting, ads for wet nurses from newspapers in the 19th century show the extent in which Black milk was treated like any other commodity in main Brazilian cities, highlighted by ritual objects and magnifying lenses. As a counterpoint, articles published in abolitionist newspapers from 1880 onwards took on the task of denouncing crimes committed against wet nurses and Black women and publishing editorial articles claiming the human right for a dignified Black motherhood.
Modos de Reportar I, 2018
Interferências sobre fotografias com lupas
5 impressões fotográficas, 40 x 58 cm, 5 lupas
A mesa mede 200 x 85 cm
Diários Associados, Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
diversas datas, século 19
Ways of Reporting, 2018
Interferences on photographs with 5 magnifying glasses
Diários Associados, Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, several dates, 19th century
MÃE PRETA é um projeto de exposição de arte e pesquisa de Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa que aborda a memória da escravidão no Brasil através do questionamento do olhar habitual sobre imagens da maternidade negra em arquivos históricos e suas reverberações no Brasil contemporâneo.