Para não esquecer de Eustáquio Neves

Compõem a mostra 10 obras da série “Máscara de Punição” e 8 obras da série “Valongo: Cartas ao Mar”.

A primeira série é formada por imagens construídas a partir da apropriação de um retrato da mãe do artista e a segunda, inspirada na história do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro.

As duas séries tem imagens fotográficas manipuladas com elementos gráficos e plásticos que se referem à escravatura, comuns no processo de criação e pesquisa do artista. As suas reflexões remetem à filosofia de Vilém Flusser, na qual a imagem em si tem um valor desprezível se a ela não for atribuído um significado.

Eustáquio se apropria da imagem para lhe garantir um atributo para além da história pessoal. Através do laboratório, desenvolveu a manipulação experimental, criando um processo que marca sua produção desde o início de sua carreira. Aos poucos seu trabalho incorporou também o movimento em sequência, pela prática do vídeo e suas imagens fotográficas podem ser apreciadas como se fossem still de um curta metragem. Vistas em conjunto, elas podem ser interpretadas como se uma ação em movimento estivesse conectando-as entre si.

Através de diversas técnicas alternativas, interferências físicas e químicas, ele recupera o tempo, o espaço e a visão crítica, atribuindo um significado pungente para o silêncio e existente nelas e entre elas, (as imagens) e entre nós (fiéis espectadores), fazendo-nos refletir sobre nossa incapacidade e inação diante da violência praticada na construção do que chamamos de “civilização ocidental”.

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Valongo: Cartas ao Mar” lembra o local, que recebeu entre 500 mil e 900 mil africanos escravizados entre os séculos XVIII e XIX. Em “Mascara de punição”, (se refere às mascaras de metal utilizadas como instrumentos de punição e tortura durante o período escravocrata) o fotógrafo utilizou um antigo retrato da sua mãe e realizou diversas intervenções físicas e químicas, incluindo a sobreposição da imagem da máscara de metal.